terça-feira, 19 de abril de 2011

EDITORIAL DA EDIÇÃO Nº 0 (março de 1978)

O Jornal GERAES existiu até 1985. Agora em abril, vamos lançar uma Edição especial, analisando o Vale do Jequitinhonha nos dias atuais. Para conhecer melhor o jornal, segue o primeiro editorial, de março de 1978.



Quando os olhos de nossa consciência percorrem o Vale, a visão do conhecimento e compreensão que adquirimos, é acompanhada de um sentimento de desolação e revolta, que cremos estar presente em todos aqueles que pelo trabalho, extraem as riquezas existentes na região, em suas terras, em seus rios, em suas matas. Esse sentimento está presente nos trabalhadores dos campos e das minas, que na persistente extração de riquezas através da mineração, da pecuária, do reflorestamento e das poucas indústrias, são tolhidos do beneficio das riquezas, seja na destruição gradativa de formas de cultura, seja nas condições subhumanas em que vivem; todo este cortejo de males acompanhado ainda pela precariedade dos serviços básicos de saúde, educação e saneamento.
Assim GERAES nasce com o compromisso de retratar essa realidade e de proporcionar à população do Vale, um meio por onde ela possa discutir seus problemas. Escutar os que querem falar e dar voz aos que vêem suas condições de vida se degradando a níveis subhumanos, para que o povo do Vale busque o melhor caminho para uma vida mais justa e humana. Portanto nosso trabalho não se justifica apenas pela carência de órgãos de informação, que cumpram o papel de interligar as cidades do Jequitinhonha, mas também contribuir para a quebra do isolamento da região, em relação ao restante do Estado e do País.
Pensamos nas dificuldades que iríamos enfrentar para a concretização deste objetivo, tanto ao nível material quanto humano, mas acreditamos na potencialidade adormecida do Vale.
O jornal estará aberto à participação das pessoas, sem preconceito religioso, social ou político, sem no entanto abrir mão de nossa proposta de um trabalho independente, sem nenhum vinculo com grupos econômicos ou partidos políticos.
Agradecemos a cooperação de todos aqueles que de modo direto ou indireto, contribuíram para que o GERAES deixasse de ser apenas uma idéia, para se tornar uma realidade.

quarta-feira, 13 de abril de 2011

O GERAES


        Em março de 1978 chegava ao Vale do Jequitinhonha o jornal GERAES, um nanico independente para "dar voz e vez aos trabalhadores da região", mostrando "O homem do Vale, suas realizações, seus sonhos e sua luta por melhores condições de vida". O GERAES foi criado por quatro jovens, filhos do Vale, que eram estudantes universitários em Belo Horizonte e envolvidos com o Movimento Estudantil: Aurélio Silby, Carlos Figueiredo, George Abner e Tadeu Martins. O jornal foi o responsável pelo chute inicial no processo de desenvolvimento cultural do Vale do Jequitinhonha. Mesmo perseguido pela ditadura militar, o GERAES conseguiu aumentar a discussão política no Vale, ajudando a criar e fortalecer sindicatos, associações comunitárias e diversas entidades culturais. Em Belo Horizonte o GERAES gerou o Centro Cultural Vale do Jequitinhonha (CCVJ), que reuniu os filhos da região aqui residentes e abriu espaço para as realizações do Vale na imprensa estadual e nacional.
            Em novembro de 1979 o GERAES promoveu em Itaobim o "1º Encontro de Compositores do Vale do Jequitinhonha", que reuniu 22 compositores vindos de 15 cidades da região e foi, sem dúvida alguma, a mola propulsora da música dos artistas do Jequitinhonha. Este Encontro gerou o FESTIVALE, idealizado para ser a reunião anual de todas as áreas do fazer cultural da região: músicos, poetas, artesãos, congadeiros, foliões, batuqueiros, escritores, repentistas, cantadores e contadores de "causos", escrevendo juntos A VIDA DO VALE EM VERSO E VIOLA. O idealizador do evento justificava assim a sua proposta: "É preciso que o Vale se conheça. Pois só quem conhece, gosta. Só quem gosta, defende. Só quem defende, divulga. E é divulgando o que defendemos, porque gostamos e conhecemos, que nós vamos ajudar a desenvolver o Vale do Jequitinhonha".
            O FESTIVALE, Festival da Cultura Popular do Vale do Jequitinhonha, ocorre sempre no mês de julho, cada ano em uma das cidades da região. Não é um festival de música, como muita gente ainda pensa. O festival de música é apenas um evento dentro da programação que conta com feira de artesanato; cursos e oficinas de literatura, teatro, artes plásticas, medicina popular e música; feira de folclore; feira de violeiros; bailes e muitos shows de música, teatro e dança. O FESTIVALE nasceu em 1980, e até em 1983 todos os artistas que venciam o festival de música, ganhavam do CCVJ a certeza de muitos shows em cidades do Vale e em outras cidades mineiras. Por isto, se projetaram no cenário musical mineiro. O 1º FESTIVALE reuniu nomes como Paulinho Pedra Azul (1º lugar), Tadeu Franco (3º lugar e melhor intérprete) e Rubinho do Vale (4º lugar). Rubinho do Vale foi também o vencedor do 2º e 3º festivais.